Língua Materna

Língua materna (também língua nativa) é a primeira língua que uma criança aprende e que geralmente corresponde ao grupo étnico-linguístico com que o indivíduo se identifica culturalmente.

Ou é a primeira lingua de comunicação. Por exemplo, uma criança descendente de portugueses mais facilmente irá adotar a língua que os seus pais utilizam devido às suas origens. Em certos casos, quando a criança é educada por pais (ou outras pessoas) que falem línguas diferentes, é possível adquirir o domínio de duas línguas simultaneamente, cada uma delas podendo ser considerada língua materna, configura-se então uma situação de bilinguismo.

A expressão língua materna provém do costume em que as mães eram as únicas a educar os seus filhos na primeira infância, fazendo com que a língua da mãe seja a primeira a ser assimilada pela criança, condicionando seu aparelho fonador àquele sistema linguístico. A aquisição da língua materna ocorre em várias fases. Inicialmente, a criança regista literalmente os fonemas e as entonações da língua, sem ainda ser capaz de os reproduzir. Em seguida, começa a produzir sons e entonações até que seu aparelho fonador permita-lhe a articular palavras e organizar frases, assimilando contemporaneamente o léxico. A sintaxe e a gramática são integradas paulatinamente dentro deste processo de aprendizagem.

Abordagens de linguistas

Saussure não define o conceito de falante nativo, mas de comunidade de fala/língua. Propõe três categorias: langage (o que acontece linguisticamente em uma comunidade de fala), langue (o sistema linguístico utilizado) e parole (a fala realmente utilizada pelas pessoas). Afirma que membros de uma mesma comunidade linguística, embora falem de forma diferente, entendem-se mutualmente e que, portanto, devem compartilhar uma série de regras que lhes permite o entendimento.

O linguista Bloomfield, autor de Linguagem não utiliza o termo falante nativo mas usa “a língua nativa”. Chomsky afirma que “cada pessoa é um falante nativo de estados de uma língua particular que ‘cresce’ em seu cérebro/sua mente ”. Ele compõe uma das ambiguidades que existe na ideia de falante nativo e usa-a para se referir a uma pessoa e a um ideal.

Para Paikeday existe um determinante genético de aquisição de fala e “ser humano é ser um falante nativo”. Ele aponta a discriminação no emprego do termo fala nativa, que se usa contra falantes que não possuem as características ideais e afirma que este termo não deve ser usado para excluir certos tipos de pessoas do ensino da língua, edição de dicionários, documentos e outras funções semelhantes. Acredita que a melhor solução é separar o ideal e os significados operativos do falante nativo. Para ele, os verdadeiros árbitros de gramaticalidade não são apenas os falantes nativos, mas também usuários com proficiência na língua.

Felix propõe a existência de dois sistemas cognitivos distintos para o aprendizado de uma língua: o primeiro é um sistema de estruturas cognitivas de língua específica e o segundo são estruturas cognitivas de resolução de problema. De acordo com o autor, o primeiro é disponível até a puberdade e por isso, para adquirir uma língua, o falante nativo utiliza principalmente o sistema de estruturas cognitivas de língua específica, enquanto que no falante não-nativo, os dois sistemas competem um com o outro.

Segundo Tannen & Saville-Troike, a competência comunicativa do falante nativo significa uma aquisição de várias habilidades interacionais, dentre elas: a capacidade de relacionar-se e adaptar-se a outros interlocutores, observar o protocolo pragmático, ser sensível ao contexto e desse modo, poder acessar unidades linguísticas adequadas, desempenhar diálogo de maneiras apropriadas e ser capaz de relacionar um texto contínuo à própria compreensão de mundo do usuário. Portanto, para o falante nativo, existe um menor esforço ao interagir verbalmente com familiares e, com isso mais silêncio não preenchido (informação implícita) entre familiares se comparado a uma interação com estranhos.

Richards et al. dá ênfase à importância da intuição para definir um falante nativo. Hymes (1970) propôs o termo competência comunicativa para tratar do conhecimento aprendido a partir de normas culturais, que é crucial no uso da língua, em especial do falante nativo. Para esta competência, não é suficiente saber o que se fala, é preciso saber como se diz. E o “como” para este autor não se refere à performance de fala, mas ao uso adequado do registro, da variedade, do texto, da fórmula, do tom de voz e da formalidade. Para o falante nativo, em geral, o uso das formas apropriadas é adquirida através de sua língua materna.

Outras características

No falante nativo, a língua está muito ligada à comunidade de fala, ao senso de identidade e à cultura. Com relação à competência, ele tem noção de automaticidade, isto é, de um desempenho sem pensar em todas as áreas de seu conhecimento pois ele é familiar com todos os recursos estruturais do código linguístico e é capaz de fazer julgamentos de percepção, além disso, aprende sua primeira língua de acordo com um sistema cognitivo específico de línguas. Por isso, ele tem mais conhecimento e consciência de sua própria gramática, de sua própria fala e do outro.

De acordo com diversos linguistas, existe uma gramática cujo nível de abstração está acima da fala individual, assim, neste sentido ser um falante nativo significa estar linguisticamente próximo a outros falantes. Deste modo, a língua comum de qualquer comunidade, seja de uma família, cidade, tribo, povoado, região, ilha, país pode ser objeto de descrição gramatical.

Porter relata que falantes nativos não usam o tipo de linguagem agramatical algumas vezes encontrada na fala de um estrangeiro. Os erros de falantes nativos costumam ser de performance, concordância de sujeito e verbo e referência de pronome. Possuem também significativamente mais palavras (vocabulário) e são capazes de monitorar sua própria fala e a fala de outro interlocutor mais atentamente, este que é o padrão paralelo ao de autocorreção e correção dos outros. Reconhecem mais facilmente quando uma frase, texto ou som (pronúncia) pode ser ou não de sua língua, se lhe é familiar ( correto ) ou não, sabem quando uma palavra ou expressão nova, que ele nunca ouviu antes ou inventou, “pertence” à sua língua. Ou seja, o falante nativo tem a capacidade e a autoridade para gerar criatividade na língua nas mais diversas áreas. Também fazem regressão, correspondência e negociações.

Ver também

Referências

Bibliográficas

  • CORACINI, M. J. Língua estrangeira e língua materna: uma questão de sujeito e identidade. In: CORACINI, M. J. ( org. ). Identidade e Discurso: (des)construindo subjetividades. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003. ISBN: 85-2680-635-1
  • DAVIES, A. The Native Speaker: Myth and Reality. Clevedon: Multilingual Matters, 2003. ISBN 1-85359-622-1
  • GRIGOLETTO. M. Representação, identidade e aprendizagem de língua estrangeira. In: CORACINI, M. J. ( org. ) Identidade e Discurso: (des)construindo subjetividades. Campinas: Editora da UNICAMP, 200
Língua Materna  Este artigo sobre linguística ou um linguista é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

Tags:

Língua Materna Abordagens de linguistasLíngua Materna Outras característicasLíngua Materna Ver tambémLíngua MaternaBilinguismo

🔥 Trending searches on Wiki Português:

Partido Social Democrata (Portugal)Estados UnidosPonto de interrogaçãoAlfabeto gregoPedro (apóstolo)Estádio Governador Plácido CasteloWhatsAppXaviNúmero compostoGuerra Colonial PortuguesaLiberalismoLiberdadeMarechalZé PelintraTimothée ChalametVenezuelaSexoLee Harvey OswaldHarvey WeinsteinMC KevinAgostinho de HiponaClub Nacional de FootballGeração ZJosef StalinSilvio SantosCastelo de VideBob MarleySebastião BugalhoLista de municípios do BrasilAl PacinoCazuzaJustiça (1.ª temporada)Kim Soo-hyunAedes aegyptiMichael DouglasPsílioBahiaGuerra Civil (filme)António de SpínolaLargo do Carmo (Lisboa)Alternativa Democrática NacionalUnidades federativas do BrasilLista de telenovelas das nove da TV GloboDemissexualidadeDimitar BerbatovThe Pirate BayVirginia FonsecaLampião (cangaceiro)Cristiano RonaldoNikola TeslaHomemLiga dos Campeões da UEFARio de Janeiro (estado)CableBDSMLeviatãMovimento das Forças ArmadasPrimeiro Comando da CapitalBundesligaEndrickPeruLista de personagens de Sítio do Picapau AmareloLuís de CamõesMarcos, o EvangelistaEnéas CarneiroHulk (futebolista)Caio JunqueiraLista de municípios de Santa Catarina por populaçãoJorge Nuno Pinto da CostaRodrygo GoesPaolla OliveiraRobert Piris da MottaBillie EilishProcesso Revolucionário em CursoMercado LivreAntónio de Oliveira SalazarLista de códigos telefónicosImpério Romano🡆 More