Ducados Ernestinos

Os ducados ernestinos, também chamados ducados saxônicos (embora também os ducados de apanágio albertinos de Weissenfels, Merseburgo e Zeitz fossem também conhecidos como os ducados saxônicos e fizessem fronteira com vários territórios ernestinos), foram um número mutável de pequenos estados localizados majoritariamente no atual estado alemão da Turíngia e governados pelos duques da linha ernestina da Casa de Wettin.

Ducados Ernestinos
Brasão de armas dos Ernestinos num marco fronteiriço

Resumo

Os ducados saxónicos começaram a fragmentar-se no século XV, devido à antiga lei de sucessão da Alemanha que permitia a divisão de heranças por todos os filhos varões. Todos os filhos varões de um duque da Saxónia herdavam também o título de Duque. Por vezes, alguns irmãos governavam o território que herdavam do pai em conjunto e, noutros casos, dividiam-nos entre si. Alguns dos ducados ernestinos mantiveram-se separados até 1918. O mesmo tipo de divisão de heranças nas casas de Reuss e Schwarzburgo fez com que a Turíngia se tornasse num retalho de microestados entre finais do século XV e inícios do século XX. 

Surgimento do ramo ernestinoː antecedentes

O conde Bernardo de Anhalt, filho mais novo de Alberto "o Urso" (1106–70), herdou partes do antigo ducado da Saxónia, principalmente nas regiões de Lauenburgo e Wittenberg, em 1180. Teve dois filhosː Alberto e Henrique. Alberto herdou o Ducado da Saxónia. Em 1260, Alberto entregou o ducado aos seus filhos João I e Alberto II, que foram dividindo gradualmente a Saxónia nos ducados de Saxe-Lauenburgo e Saxe-Wittenberg, divisão essa que se tornou efectiva a partir de 1296. Saxe-Wittenberg foi reconhecido como eleitorado da Saxónia na Bula Dourada de 1356. Quando o último duque de Saxe-Wittenberg morreu sem deixar herdeiros em 1422, o sacro-imperador Segismundo entregou o ducado a Frederico IV da Casa de Wettin, marquês de Meissen e conde da Turíngia, que, a aprtir desse momento, passou a ser conhecido como Frederico I, Eleitor da Saxónia. A partir daí, o nome "Saxónia" passou a aplicar-se a todos os domínios da Casa de Wettin, incluindo os que se encontravam na Turíngia, uma vez que os títulos da Saxónia eram os mais elevados que a família possuía e todos os seus membros passaram a utilizá-los, apesar de muitos deles só terem terras na Turíngia. Frederico I foi sucedido pelo seu filho, Frederico II. Após a morte de Frederico II em 1464, o seu filho mais velho, Ernesto, tornou-se eleitor e, juntamente com o seu irmão mais novo, o duque Alberto, os dois passaram a governar as terras dos Wettin em conjunto. Em 1485, na altura da divisão de Leipzige, os irmãos decidiram dividir as terras dos Wettin, tendo Ernesto recebido o norte de Meissen, o sul da Turíngia, e Wittenberg, enquanto que Alberto ficou com o norte da Turíngia e o sul de Meissen.

Ao analisar a lista de membros da Casa de Wettin, é possível ver os vários títulos e possessões da família ao longo dos séculos.

História detalhada das divisões da linha ernestina

Tabela

Eleitores da Saxónia

Em 1554, João Frederico I dividiu o ducado entre os seus três filhos.

Duque de Saxe-Eisenach e Saxe-Coburgo Duque de Saxe-Weimar Duque de Saxe-Gota
Divisão de Erfurt
Em 1572, os ducados ernestinos foram reorganizados e divididos novamente entre os dois filhos de João Frederico II e o filho de João Guilherme.
Duques de Saxe-Coburgo-Eisenach Duques de Saxe-Weimar

Em 1596, os dois irmãos concordaram em dividir as terras entre eles.

Após a morte de Frederico Guilherme, as terras foram divididas entre os seus filhos e irmão.

Duques de Saxe-Coburgo Duques de Saxe-Eisenach

Quando João Casimiro morreu sem deixar herdeiros, a sua herança passou para o seu irmão mais novo

Duques de Saxe-Altemburgo Duques de Saxe-Weimar
  • João II, 1602–1605, filho de João Guilherme
Duques de Saxe-Coburgo-Eisenach

Quando João Ernesto morreu sem deixar herdeiros, o seu principado foi dividido entre Saxe-Weimar e Saxe-Altemburgo.

História

Ducados Ernestinos 
Ernesto, Eleitor da Saxónia (1441-1486)

O eleitor Ernesto morreu em 1486 e foi sucedido pelo seu filho, Frederico, o Sábio. Leipzig, o centro económico da Saxónia, assim como a cidade onde se encontrava a única universidade da Saxónia, encontrava-se nos territórios albertinos. Frederico desejava ter uma universidade nas suas terras para educar, por exemplo, funcionários civis e religiosos e, por isso, abriu a Universidade de Wittenberg em 1502. Foi lá que Martinho Lutero afixou as suas 95 Teses. Frederico protegeu Lutero, recusando-se a extraditá-lo para Roma onde seria julgado. Tal como outros príncipes alemães, Frederico permitiu a implementação das reformas luteranas nos seus territórios.

Frederico III morreu em 1525 e foi sucedido pelo seu irmão, João, o Firme (1525-1532). João era o líder da Liga de Esmalcalda de príncipes protestantes do Sacro Império Romano. João morreu em 1532 e foi sucedido pelo seu filho João Frederico I. Durante os primeiros dez anos, João Frederico partilhou o governo dos estados ernestinos da Saxónia com o seu meio-irmão, João Ernesto, duque titular de Saxe-Coburgo, que morreu sem deixar descendentes. João Frederico foi apoiou cada vez mais a reforma luterana enquanto que o sacro-imperador, Carlos V, evitou o confronto directo com os príncipes protestantes, uma vez que precisava do seu apoio na luta contra a França.

Eventualmente, Carlos conseguiu chegar a acordo com a França e passou a prestar mais atenção às terras protestantes do Sacro Império Romano. Em 1546, a Liga Esmalcalda conseguiu juntar um exército. O eleitor João Frederico liderou as tropas para sul, mas, pouco depois, o seu primo, o duque Maurício de Meissen, da Saxónia Albertina, invadiu a Saxónia Ernestina. João Frederico regressou rapidamente à Saxónia, expulsou Maurício das terras ernestinas, conquistou a Saxónia Albertina e, depois, invadiu a Boémia (que pertencia directamente ao irmão de Carlos, Fernando, e à sua esposa, a princesa Ana da Boémia e Hungria). As tropas de Carlos conseguiram travar as tropas da Liga Esmalcalda e derrotou-os de forma definitiva na Batalha de Mühlberg (1547). João Frederico ficou ferido e foi feito prisioneiro. O sacro-imperador condenou-o à morte por rebeldia, mas adiou a execução porque não queria perder tempo a conquistar Wittenberg, que era defendida pela esposa de João Frederico, a princesa Sibila de Cleves. Para salvar a sua vida, João Frederico concedeu a Capitulação de Wittenberg, na qual entregou o governo das suas terras a Maurício das terras albertinas, e o seu castigo foi mudado para prisão perpétua. Quando o recém-empossado eleitor Maurício, que tinha mudado de lealdade, atacou o sacro-imperador, o duque João Frederico foi libertado da prisão e recebeu o condado da Turíngia de volta. Estabeleceu a sua nova capital em Weimar, e abriu uma universidade em Jena (para substituir a de Wittenberg que tinha perdido para Maurício) antes de morrer em 1554.

Os três filhos de João Frederico I partilharam o território, sendo João Frederico II nomeado o chefe da família (e, durante um breve período de tempo, entre 1554 e 1556, chegou mesmo a receber o título de sacro-imperador) tendo residências oficiais em Eisenach e Coburgo. O irmão do meio, João Guilherme, ficou em Weimar (Saxe-Weimar), e o mais novo, Frederico Guilherme III (que tinha o mesmo nome do irmão mais velho, o que tem causado muita confusão na escrita da História) estabeleceu-se em Gota (Saxe-Gota). Quando João Frederico III de Gota morreu solteiro e sem deixar descendentes em 1565, João Guilherme de Weimar tentou reclamar a sucessão de Saxe-Gota, mas os filhos de João Frederico II, que se encontrava preso, apresentaram as suas pretensões.

Ducados Ernestinos 
João Frederico I, Eleitor da Saxónia, com Martinho Lutero (1º da esquerda) por Lucas Cranach, o Jovem.

Os candidatos chegaram a acordo em 1572, levando a cabo a Divisão de Erfurt, na qual João Guilherme acrescentou os distritos de Altemburgo, GotaMeiningen a Saxe-Weimar. Quando João Guilherme morreu um ano depois, o seu filho mais velho, Frederico Guilherme I, recebeu Altemburgo, Gota e Meiningen com o título de duque Saxe-Altenburgo, e, por ter tido um grande número de descendentes, criou a primeira linha de Saxe-Altemburgo, enquanto que Saxe-Weimar foi para o filho mais novo de João II, João Casimiro (que morreu em 1633 sem deixar descendentes), filho mais velho de João Frederico II, e João Ernesto (que morreu em 1638 sem deixar descendentes), filho mais novo de João Frederico II, recebeu o território unido de Saxe-Coburgo-Eisenach, mas foi-lhes nomeado um guardião legal, uma vez que ainda eram todos menores de idade. Em 1596, os irmãos concordaram em dividir o ducado em Saxe-Coburgo e Saxe-Eisenach.

João II, Duque de Saxe-Weimar (ou João II), morreu ainda novo, deixando oito filhos (incluindo o príncipe Bernardo de Saxe-Weimar, o mais novo, que se tornou num conhecido general) e um testamento no qual ordenava que os seus filhos governassem os territórios em conjunto. Quando o mais velho, João Ernesto I, Duque de Saxe-Weimar morreu em combate (1626) solteiro e sem deixar descendentes, já outros dois irmãos tinham morrido antes de ter filhos, o que fazia com que restassem cinco duques de Saxe-Weimar, dos quais Guilherme era o mais velho. Ao longo dos quinze anos seguintes, viriam a morrer mais dois dois sem descendentes, incluindo Bernardo em 1639. Em 1638, a linha sénior de Coburgo-Eisenach extinguiu-se e as suas terras foram divididas entre os duques de Altemburgo e Weimar, o que fez com que as posses de Saxe-Weimar duplicassem e tornasse possível a sua divisão. Por volta de 1640, os irmãos que ainda estavam vivos dividiram finalmente o seu património. Guilherme ficou com Weimar, Alberto (Albrecht) recebeu o título e terras do duque de Saxe-Eisenach e Ernesto (que tinha o cognome de "o Devoto") também teve direito à sua parte, tornando-se duque de Gota.

Ernesto I, duque de Saxe-Gota (1601–75) era casado com a princesa Isabel Sofia, filha única de João Filipe, Duque de Altemburgo e Gota (1597-1638), filho mais velho de Frederico Guilherme I. Quando o primo de Isabel Sofia, Frederico Guilherme III, Duque de Altemburgo, morreu sem deixar descendentes em 1672, a linha principal de Altemburgo foi extinta na linha masculina, o que criou um problema de sucessão. No final, foram os filhos de Ernesto e Isabel Sofia que receberam a maior parte da herança de Altemburgo, tendo por base o testamento deixado pelo duque João Filipe (uma vez que foi reconhecido que a lei sálica não impedia que o titular de um testamento deixasse as suas posses aos descendentes masculinos que desejasse, mesmo que para isso excluísse outros descendentes masculinos que teriam os mesmos direitos; e mesmo que esses descendentes fossem netos da sua filha, não havia nada que o impedisse) e, assim, as terras passaram para o ramo de Saxe-Weimar. É destas duas linhas: a de Weimar e Gota(-Altemburgo) que descendem todas as linhas ernestinas a partir de então e, algumas, têm inclusivamente descendentes directos até aos dias de hoje. Após a divisão da herança da linha principal de Altemburgo, a linha principal de Weimar passou a possuir menos de metade de todas as terras ernestinas, e a linha secundária, Gota-Altemburgo, possuía mais de metade. No entanto, a linha de Gota-Altemburgo subdividia-se mais do que a de Weimar e, graças à união de territórios conseguida com as leis de primogenitura de 1741, Saxe-Weimar viria a ser elevado a grão-ducado em 1815. 

Ducados Ernestinos 
Membros da família de Saxe-Coburgo-Gota reunidos em Inglaterra em 1859ː (da esq. para a dir.) Filipe, Conde da Flandres, Alberto, príncipe-consorte do Reino Unido, a princesa Alice do Reino Unido, Dom Luís, duque do Porto (futuro rei Dom Luís I de Portugal), príncipe Alberto Vítor (futuro rei Eduardo VII do Reino Unido), a rainha Vitória e o rei Leopoldo I da Bélgica.

Os vários filhos de Ernesto de Gota e Isabel Sofia dividiram a herança entre si (cinco oitavos de todas as terras ernestinas) inicialmente em sete partes: Gota-Altemburgo, Coburgo, Meiningen, Römhild, Eisenberg, Hildburghausen e Saalfeld. Dessas, Coburgo, Römhild e Eisenberg não sobreviveram mais do que uma geração e foram divididas entre as quatro linhas que sobraram.

Assim, os territórios ernestinos da Turíngia foram divididos e unidos novamente várias vezes de acordo com os filhos que os duques deixavam e as linhas que se foram extinguindo. Eventualmente, foi instaurada a regra da primogenitura nas heranças das terras ernestinas, mas, quando tal aconteceu, já existiam dez ducados ernestinos. Em 1826, ainda existiam os ducados ernestinos de Saxe-Weimar-Eisenach (aproximadamente três oitavos de todas as terras ernestinas), e os ducados (da linha "Isabel-Sofia") de Saxe-Gota-Altemburgo, Saxe-Meiningen, Saxe-Hildburghausen e Saxe-Coburgo-Saalfeld. Em 1826, extinguiu-se a linha principal que descendia de Ernesto, o Devoto (Saxe-Altemburgo). A filha do seu penúltimo duque tinha-se casado com o duque de Coburgo e Saalfeld, e o casal teve dois filhos (o mais novo dos quais era Alberto, príncipe-consorte do Reino Unido). O património de Gota-Altemburgo foi dividido entre as outras três linhas descendentes de Ernesto, o Devoto, o que levou a algumas alterações na sua nomenclatura: a partir daí, passaram a ser conhecidos como Saxe-Meiningen-Hildburghausen, Saxe-Altemburgo (a antiga linha de Hildburghausen) e Saxe-Coburgo-Gota - a linha mais recente (a que, originalmente, tinha sido a linha Saalfeld) recebeu a capital "materna" de Gota, que tinha sido a cidade governada por Ernesto, o criador da linha. Todos os ducados ernestinos terminaram com a abolição da monarquia e estados principescos da Alemanha pouco depois do final da Primeira Guerra Mundial.

Cinco ducados ernestinos pertenciam ao Circulo Superior da Saxónia do Sacro Império Romano:

  • Saxe-Weimar
  • Saxe-Eisenach
  • Saxe-Coburgo
  • Saxe-Gota
  • Saxe-Altemburgo

Os governantes dos estados que pertenciam a este circulo tinham direito a um voto no Reichstag. Na sessão de 1792 do Reichstag, o duque de Saxe-Weimar era também duque de Saxe-Eisenach, e, por isso, teve direito a dois votos (assim como a três oitavos de todas as terras ernestinas); o duque de Saxe-Altemburgo era também duque de SaxeGota (visto ser o herdeiro mais directo tanto do duque João Filipe como do duque Ernesto, o Devoto), e tinha também direito a dois votos; e o duque de Saxe-Coburgo tinha um voto.

Os outros ducados ernestinos nunca pertenceram ao circulo imperial e, por isso, não tinham direito a voto no reichstag. No entanto, eram todos autónomos e, com a dissolução do Sacro Império Romano a 6 de Agosto de 1806, esse problema tornou-se irrelevante.

Ducados Ernestinos 
Os ducados ernestinos da Turíngia após 1825

Duques ernestinos nos dias de hoje

Saxe-Weimar-Eisenach, Saxe-Coburgo-Gota, Saxe-Meiningen, e Saxe-Altenburg eram os únicos ducados que restavam quando foi criada a Republica de Weimar. Em 1991, a linha de Altemburgo extinguiu-se, o que faz com que hoje em dia restem apenas três casas, representadas pelos seguintes príncipes:

Ver também

Referências

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