Canção Construção: Canção de Chico Buarque

Construção é uma canção do cantor e compositor brasileiro Chico Buarque, lançada em 1971 para seu álbum homônimo.

Junto com "Pedro Pedreiro", é considerada uma das canções mais emblemáticas da vertente crítica do compositor, "podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso das relações aviltantes entre o capital e o trabalho".

"Construção"
Canção Construção: Letra e música, Crítica, Ligação externa
Construção (canção)
Capa do compacto português.
Canção de Chico Buarque
do álbum Construção
Gravação 1971
Gênero(s) MPB Pop barroco Música progressiva Música psicadélica
Duração 6:24
Gravadora(s) Phonogram/Philips
Composição Chico Buarque
Produção Roberto Menescal
Faixas de Construção
Canção Construção: Letra e música, Crítica, Ligação externa
"Desalento"
(3)
"Cordão"
(5)
Canção Construção: Letra e música, Crítica, Ligação externa

A letra foi composta em versos dodecassílabos, que sempre terminam numa palavra proparoxítona. Os 17 versos da primeira parte (quatro quartetos, acrescidos de um verso-desfecho) são praticamente os mesmos dezessete que compõem a segunda parte, mudando apenas a última palavra. Os arranjos são do maestro Rogério Duprat, em uma melodia repetitiva, desenvolvida inicialmente sobre dois acordes. A música, entretanto, tem harmonia bem mais complexa.

A canção foi feita em um dos períodos mais severos da ditadura militar no Brasil, em meio à censura e às perseguições políticas. Chico Buarque havia retornado da Itália em março de 1970, país onde vivia desde o início de 1969, ao tomar distância voluntária da repressão política brasileira. A canção já foi eleita em enquete da Folha de S. Paulo como a segunda melhor canção brasileira de todos os tempos e, por eleição na revista Rolling Stone, a "maior canção brasileira de todos os tempos" . Recebeu também grande destaque durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, tocada ao fundo de um dos segmentos artísticos.

Letra e música

Em um formato tipicamente épico, "Construção" narra a história de um trabalhador da construção civil morto no exercício de sua profissão, em seu último dia de vida, desde a saída de casa para o trabalho ("Beijou sua mulher como se fosse a última") até o momento da queda mortal ("E se acabou no chão feito um pacote flácido"). O narrador observa, organiza e comunica os acontecimentos, ocorridos numa história circular, cantada em melodia reiterativa e que modifica o ângulo de observação a cada repetição da letra com a troca de comparações ("Ergueu no patamar quatro paredes sólidas/mágicas/flácidas"), mas que no final encaminha para o mesmo fim, uma morte.

A letra contém uma forte crítica à alienação do trabalhador na sociedade capitalista moderna e urbana, reduzido a condição mecânica - intensificado especialmente por seus atos no terceiro bloco da canção ("máquina", "lógico"). Quando esse trabalhador ("um pacote flácido/tímido/bêbado") morre, a constatação é de que sua morte apenas atrapalha o "tráfego", o "público" ou o "sábado". Ainda assim, Chico declarou, em entrevista concedida à revista Status, em 1973, que "Construção" não era para ele uma música de denúncia ou protesto. "(...) Em Construção, a emoção estava no jogo de palavras. Agora, se você coloca um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse... um tijolo - acaba mexendo com a emoção das pessoas."

O autor emprega ousados processos de construção poética como, por exemplo, a alternância das proparoxítonas finais, "como se fossem peças de um jogo num tabuleiro", segundo o próprio Chico. A letra é dividida em três blocos. Nos dois primeiros, compostos por 17 versos, e mais seis no último bloco. Nos dois primeiros blocos é possível perceber o nítido jogo de palavras proparoxítonas criado por Chico.

Corpo fixo Palavras intercambiáveis 1o. bloco Palavras intercambiáveis 2o. bloco Palavras intercambiáveis 3o. bloco
1. Amou daquela vez como se fosse a última o último máquina
2. Beijou sua mulher como se fosse a última a única lógico
3. E cada filho seu como se fosse o único o pródigo -/-
4. E atravessou a rua com seu passo tímido bêbado -/-
5. Subiu a construção como se fosse máquina sólido -/-
6. Ergueu no patamar quatro paredes sólidas mágicas flácidas
7. Tijolo com tijolo num desenho mágico lógico -/-
8. Seus olhos embotados de cimento e lágrima tráfego -/-
9. Sentou pra descansar como se fosse sábado um príncipe um pássaro
10. Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe o máximo -/-
11. Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago máquina -/-
12. Dançou e gargalhou como se ouvisse música fosse o próximo -/-
13. E tropeçou no céu como se fosse um bêbado ouvisse música -/-
14. E flutuou no ar como se fosse um pássaro sábado um príncipe
15. E se acabou no chão feito um pacote flácido tímido bêbado
16. Agonizou no meio do passeio público náufrago -/-
17. Morreu na contramão atrapalhando o tráfego público sábado

No rascunho de "Construção", os versos estavam soltos, mas já dentro de uma métrica e ritmo final. Alguns desses versos foram abandonados: "Pôs pedra sobre pedra até perder o fôlego" / "E o máximo suor por um salário mínimo". Em um rascunho posterior, a melodia sugere o agrupamento dos versos em quadro. E só depois de concluída a primeira parte é que apareceram as alternativas: ("Tijolo com tijolo num desenho mágico/lógico", "E flutuou no ar como se fosse um pássaro/sábado", etc).

À complexidade da letra de "Construção", corresponde uma linha de apenas dois acordes, composta pelo maestro Rogério Duprat, que são repetidos à medida que se sucedem as imagens "como se ele tivesse realmente colocando laje sobre laje num edifício." O grupo MPB-4 participa do coro musical. Após o último verso do terceiro bloco, surge uma reprise com três estrofes de "Deus lhe pague", canção que abre o disco Construção.

Crítica

O músico brasileiro Tom Jobim adorava a canção. Segundo seu filho Paulo Jobim, o pai chegou a recortar a letra da canção, publicada em um jornal da época, e a colou em um caderno. Helena Jobim confirma o entusiasmo do irmão. "Comentava a perfeição da letra, em que Chico [Buarque] usa palavras proparoxítonas, com rara maestria."

Conhecido por sua posições de direita, o jornalista David Nasser pôs-se um dia a louvar a canção — para, num trecho do artigo, a falar da insistência nas proparoxítonas, acrescentar mais uma: "Médici, o nosso presidente".

Para Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, "Construção" tem "uma letra extraordinária, de qualidade rara numa canção popular".

Em 2001, o jornal Folha de S.Paulo, em uma enquete realizada com 214 votantes (entre jornalistas, músicos e artistas do Brasil), elegeu "Construção" como a segunda melhor canção brasileira de todos os tempos - atrás de Águas de Março, de Tom Jobim. Já em uma eleição, em 2009, promovida pela versão brasileira da revista Rolling Stone, "Construção" foi eleita a melhor canção brasileira de todos os tempos.

Referências

Ligação externa

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