Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920

O Campeonato Brasileiro de Clubes Campeões de 1920, também conhecido como Torneio dos Campeões, Torneio dos Campeões Estaduais ou Copa dos Campeões Estaduais, foi um dos primeiros campeonatos a nível interestadual no Brasil.

Organizado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) (precursora da atual CBF), em 1920, em plena fase amadora, é tido como um dos antecedentes do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920
"O quadro do C.A. Paulistano, vencedor do Fluminense"
Jornal do Brasil, 29 de março de 1920

O jornal O Paiz, edição de 25 de março de 1920, anunciava o início do "grande interestadual promovido pela CBD", que convidou altas autoridades do país, incluindo o presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, para acompanhar os jogos. O torneio foi vencido pelo Paulistano, que recebeu a "Taça Elixir de Nogueira", na qual continha a inscrição "Campeão Brasileiro de 1920".

Participantes

Foram chamados os campeões estaduais de São Paulo, Rio de Janeiro (Distrito Federal) e Rio Grande do Sul:

Antecedentes

A origem da competição relaciona-se com a controvérsia sobre a Taça Ioduran de 1919, em que Fluminense e Paulistano se enfrentariam como campeões estaduais de Rio de Janeiro e São Paulo. Esta acabou não ocorrendo, em razão de desentendimento envolvendo a Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA) e a carioca Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMTD).

O Paulistano fez críticas ao Botafogo, ao qual o zagueiro Palomone, então Mackenzie, se transferiu logo após o Sul-Americano de 1919. Isto gerou uma crise entre as instituições, conforme explica Fernandez (2016, pp. 240-241) citando Mazzoni (1950): "O clube paulista acusou o clube carioca de aliciar o jogador com ofertas financeiras, a LMDT confirmou a transferência e a APEA rompeu com essa entidade, como a CBD ficou ao lado da LMTD, a APEA também rompeu com a CBD".

A APEA acabaria impedindo o Paulistano de disputar a Taça Ioduran, sob a justificativa de falta de datas, de modo que o Fluminense, não sem o descontentamento paulista, foi declarado campeão por w.o. Já em 1920, o Paulistano aceitou entregar a taça, requisitando, como condição, um novo confronto. Assim, segundo Fernandez (2016, p. 241): "Essa atitude permitiu uma trégua para a realização do primeiro campeonato brasileiro de clubes, a Copa dos Campeões (...)".

Treze anos antes, em 1907, foi disputada a Taça Brasil, tira-teima de ida-e-volta entre as seleções Carioca e a Paulista, organizada pelas respectivas federações estaduais, que usaram a rubrica "Campeonato Brasileiro" na comunicação entre si.

História

O jornal O Estado de S. Paulo de 29 de março de 1920, divulgou que o interestadual daquele ano era um campeonato nacional, representado pelas forças máximas da associação, e que, após a vitória sobre o Fluminense, o Paulistano confirmou o seu título de "campeão brasileiro de futebol". Depois de vencer os gaúchos e cariocas, a diretoria do clube paulista voltou para casa festejando os "campeões brasileiros", recebidos com placa, banquete e medalhas.

O Correio da Manhã, de 4 de abril de 1920, refere-se ao torneio como "Campeonato Brasileiro". Em 15 de março de 1946, o jornalista Mário Filho, para O Globo Sportivo, artigo "História do Campeonato Brasileiro - 1", escreve: "Em 20, a Confederação Brasileira organizou um torneio a que deu o título de Campeonato Brasileiro"; "E, havia dois anos, a CBD crismara de 'Campeonato Brasileiro' o certame dos campeões do Rio, São Paulo e Rio Grande". Entretanto, só no primeiro campeonato de seleções envolvendo sete estados, em 1922, que a CBD passou a referir uma competição oficialmente de "Campeonato Brasileiro". Segundo reportagem de Mauro Pinheiro (1976), para a Placar, "a CBD organizou o primeiro Campeonato Brasileiro de Clubes Campeões, assim rotulado, mas que acabou sendo um simples triangular (...)". Em 1994, a mesma revista chamou a disputa de "avô do atual campeonato brasileiro". É mais referenciada pela impressa como "Copa dos Campeões" ou "Torneio dos Campeões".

As despesas foram totalmente pagas pela CBD, que precisava montar uma Seleção Brasileira para o Campeonato Sul-Americano de 1920, no Chile, tendo o torneio como uma oportunidade de observar jogadores.

Todos os jogos foram disputados no estádio do Fluminense, o Estádio das Laranjeiras, que fora construído para o Sul-Americano de 1919, com o apoio da CBD, sendo o maior do Brasil na época. O juiz Henrique Vignal, da Liga Metropolitana e associado do C. R. Flamengo, considerado um dos melhores juízes do futebol brasileiro, conforme O Paiz (1920), apitou a partida inaugural.

No jogo do título contra o anfitrião Fluminense, 25 mil pessoas fizeram presença, então ocupação máxima do Estádio das Laranjeiras. Houve torcida hostil ao time local, seja por torcedores de rivais cariocas ou pela própria torcida (esta última possibilidade levantada pelo O Paiz), o que chegou a ser apontado como razão da derrota e indicava o fim do cavalheirismo no futebol. Em São Paulo, lia-se o confronto do Rio de Janeiro na Praça Antônio Prado, em frente ao Estadão, que a partir de tabuletas informava os lances importantes. Por telefone, um repórter no estádio descrevia a partida para a redação. A vitória foi tida pela impressa paulista como representação da superioridade do futebol de São Paulo sobre o futebol da então capital brasileira. O triunfo foi comemorado pelo poeta Mário de Andrade: "Os cariocas perderam o match / Quatro a um / Urrah, paulistas!". Mário Filho apontou que ter um elenco envelhecido, que vinha de um tricampeonato carioca, foi a causa do insucesso do Fluminense.

O Correio da Manhã (1920) discorreu sobre o último jogo da "série de jogos interestaduais" da CBD, ocorrido entre Fluminense e Brasil de Pelotas. Apesar da diferença de quatro gols em favor do dono da casa, o jornal observa que ambas equipes tiveram um desempenho superior ao que apresentaram contra o Paulistano. O periódico, que narrou cada gol e apresentou as estatísticas da peleja, ao final apresenta a tabela com a "colocação dos concorrentes ao título máximo do Campeonato Brasileiro". Antes da partida houve uma preliminar: Serrano 5 x 1 Carioca. O time gaúcho guarda em suas dependências um troféu pela participação no campeonato.

Foi o primeiro torneio nacional do futebol brasileiro, sendo sucedido pelo Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais (1922 a 1987) e pelo Torneio dos Campeões de 1937. Este último, organizado pela FBF, também era entre clubes, mas de cunho profissional, tendo sido oficializado como Brasileirão, em 2023, pela CBF. São competições distintas, não tendo o Club Athletico Paulistano, que abandonou o setor de futebol em 1929 (ainda como time amador), demonstrado interesse em ter o mesmo reconhecimento.

Em 3 jogos foram marcados 23 gols, uma média de 7,6 gols por partida.

Jogos

Jogo 1

25 de março de 1920 Paulistano Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  7 – 3 Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  Brasil de Pelotas Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro (RJ)

Arthur Friedenreich Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  04', Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  17', Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  29'
Mário Andrade Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  11', Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  25'
Carlos Araujo Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  54', Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  64'
Ignácio Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  42'
Proença Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  78'
Alberto Côrrea Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  82'
Público: ?
Árbitro: Henrique Vignal
  • Paulistano: Arnaldo - Orlando (c), Carlito - Clodoaldo, Mariano, Sergio - Zonzo, Mário Andrade, Arthur Friedenreich, Carlos Araujo, Cassiano. Técnico: Angelo Bernardelli.
  • Brasil de Pelotas: Frank - Nunes, Zabaleta - Floriano, Rossell, Waldomiro Victoria “Babá” - Faria, Alberto Côrrea, Proença, Ignácio, Alvariza.

Jogo 2

28 de março de 1920 Fluminense Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  1 – 4 Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  Paulistano Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro (RJ)

Zezé Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  02' Arthur Friedenreich Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  40'
Mário Andrade Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  50', Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  89'
Botelho Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  69'
Público: 25,000
Árbitro: Eduardo Gibson
  • Fluminense: Marcos Mendonça - Othelo, Chico Netto (c) - Laís, Osvaldo Gomes, Fortes - Mano, Zezé, Harry Welfare, Machado, Bacchi. Técnico: Pode Pedersen.
  • Paulistano: Arnaldo - Orlando (c), Carlito - Sergio, Carlos Araujo, Mariano - Zonzo, Mário Andrade, Friedenreich, Botelho, Cassiano. Técnico: Angelo Bernardelli.

Jogo 3

3 de abril de 1920 Fluminense Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  6 – 2 Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  Brasil de Pelotas Estádio das Laranjeiras, Rio de Janeiro (RJ)

Machado Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  16', Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  77'
Zezé Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  43', Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  53', Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  75'
Harry Welfare Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  83'
Proença Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  63'
Alvariza Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  86'
Público: ?
Árbitro: Carlos Santos

Classificação final

Triangular final
Times Pts J V E D GP GC SG
Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  Paulistano 4 2 2 0 0 11 4 +7
Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  Fluminense 2 2 1 0 1 7 6 +1
Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920  Brasil de Pelotas 0 2 0 0 2 5 13 -8

Premiação

Campeonato Brasileiro de Clubes Campeões
Campeonato Brasileiro De Clubes Campeões De 1920 
Paulistano
Campeão
(1.º título)

Artilheiros

  • Arthur Friedenreich (Paulistano), Mário Andrade (Paulistano) e Zezé (Fluminense): 4 gols
  • Carlos Araujo (Paulistano), Machado (Fluminense) e Proença (Brasil de Pelotas): 2 gols

Ver também

Notas e referências

Notas

Referências

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