Joaquim Gonçalves Ledo: Jornalista brasileiro

Joaquim Gonçalves Ledo (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1781 — Fazenda do Sumidouro, Cachoeiras de Macacu, 19 de maio de 1847) foi um jornalista e político brasileiro.

Joaquim Gonçalves Ledo Academia Brasileira de Letras
Joaquim Gonçalves Ledo: Início da vida, Carreira, Últimos anos
Joaquim Gonçalves Ledo
Nascimento 11 de dezembro de 1781
Cachoeiras de Macacu
Morte 9 de maio de 1847
Sumidouro
Cidadania Brasil
Ocupação jornalista, político
Causa da morte enfarte agudo do miocárdio

O primogênito do comerciante Antônio Gonçalves Ledo e de D. Maria dos Reis Ledo, era irmão de Custódio Gonçalves Ledo. Aos 14 anos, mudou-se do Brasil para estudar em Portugal, bacharelou em Coimbra e entrou na Maçonaria.

Retornou ao Rio de Janeiro em 1808 para assumir os negócios da família. Continuou na Maçonaria e ingressou na política, lutando a favor da independência. Tornou-se adversário de José Bonifácio de Andrada e Silva em ambas áreas.

Em 15 de setembro de 1821, fundou o Revérbero Constitucional Fluminense em parceria com Januário da Cunha Barbosa. Considerado um dos articuladores da Independência do Brasil, foi um dos responsáveis pelo Dia do Fico e pela convocação da Assembleia Constituinte de 1822.

Joaquim Gonçalves Ledo: Início da vida, Carreira, Últimos anos
Joaquim Gonçalves Ledo, por Ettore Ximenes. Monumento à Independência, São Paulo.

Casou-se com Ana Carolina de Araújo em 1833. Ledo foi procurador e deputado provincial do Rio de Janeiro até 1834, quando abandonou a política e a maçonaria para viver em sua fazenda em Cachoeiras de Macacu, onde morreu aos 66 anos de ataque cardíaco.

Início da vida

Nascimento

Joaquim Gonçalves Ledo nasceu em 11 de dezembro de 1781 no Rio de Janeiro. Era filho primogênito do comerciante Antônio Gonçalves Ledo e de D. Maria dos Reis Ledo. Joaquim era irmão de Custódio Gonçalves Ledo, médico formado em Londres.

Formação

Em 1795, foi para Portugal terminar os estudos e cursar Direito na Universidade de Coimbra. O contexto era de efervescência revolucionária e o estudante, patriota e idealista, absorveu as ideias liberais e tornou-se maçom.

Devido à morte prematura de seu pai, Ledo retornou ao Brasil em 1808. Diante das dificuldades financeiras, o jovem precisou interromper a universidade e assumir os negócios da família.

Carreira

Maçonaria

Ledo continuou a estudar no Rio de Janeiro. Apesar de não ter concluído a sua formação, era considerado advogado por defender vários pleitos com sucesso.

Ajudou a fundar e dirigir a loja maçônica Comércio e Artes, em 1815, e o Clube Recreativo e Cultural da Guarda Velha, em 1818, com o objetivo de atrair aliados a favor da independência brasileira. No mesmo ano, um alvará decretou o fim das atividades da Maçonaria, o fechamento do clube secreto e a prisão de seus membros por conspiração política. Em um decreto posterior, Dom João VI declarou perdão a Ledo.

Em 1820, passou a servir como oficial-mor na Contadoria do Arsenal de Guerra. Aceitou o emprego que lhe pagava o modesto salário de 33 mil réis mensais por patriotismo: propagar as ideias liberais entre os militares graduados e levá-los a Maçonaria.

Articulador da Independência do Brasil

Enquanto Gonçalves Ledo chefiava, no Rio de Janeiro, a conspiração que visava tornar o Brasil independente de Portugal, José Bonifácio, em São Paulo, não tinha o menor interesse no movimento separatista. Os liberais, comandados por Ledo, uniram-se ao Partido Brasileiro para buscar a independência, mas também a democratização da sociedade brasileira.

Em 1821, as Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa ordenavam o retorno de Dom Pedro de Alcântara à Europa como medida a reação dos liberais. Em resposta, Ledo foi um dos responsáveis pelo movimento que reuniu assinaturas a favor da permanência do príncipe. No intitulado Dia do Fico, Dom Pedro I decretou sua permanência no Brasil, contrariando as ordens de Portugal.

Entretanto quem se destacou foi seu adversário José Bonifácio, nomeado ministro do Reino e dos Estrangeiros. Enquanto isso, Gonçalves Ledo fez-se jornalista e fundou o Revérbero Constitucional Fluminense, com Januário da Cunha Barbosa, em 15 de setembro de 1821. O jornal tornou-se o "clarim das liberdades nacionais", porta-voz da campanha pela Independência do Brasil, combatendo os interesses dinásticos portugueses e reivindicando a constituição de um governo liberal. De acordo com Nicola Aslan, Ledo declarava-se patriota e liberal enquanto Bonifácio mantinha seus laços e interesses com Portugal e com a monarquia absolutista.

Para resistir às ameaças de recolonização, um Conselho de Procuradores Gerais das Províncias do Brasil foi convocado em 16 de fevereiro de 1822. Nesta ocasião, Gonçalves Ledo propôs a convocação de uma Assembleia Constituinte. O príncipe português acatou a sugestão do patriota em junho, quando também o nomeou Procurador da província do Rio de Janeiro e Conselheiro do governo. José Bonifácio foi obrigado a aceitá-la, mas sugeriu a eleição indireta, que prevaleceu contra a vontade de Ledo e dos liberais radicais, que defendiam a eleição direta dos constituintes.

O liberal redigiu o "Manifesto dos Brasileiros" em agosto convocando os brasileiros a se unirem e a lutarem pela emancipação política do país: "Não ouça entre vós, outro grito que não seja união! Do Amazonas ao Prata, não retumbe outro eco que não seja – Independência! Formem todas as nossas províncias o feixe misterioso, que nenhuma força pode quebrar". Em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I rompeu definitivamente os vínculos com Portugal e proclamou a Independência do Brasil. O príncipe foi aclamado Imperador Constitucional do Brasil, no dia 12 de outubro.

Visando fortalecer um dos instrumentos de defesa do país, Gonçalves Ledo e o ministro da Guerra Luís Pereira da Nóbrega propuseram um plano para a organização das Forças Armadas do Brasil, aprovado pelo Imperador em 1823.

Em carta a José Clemente Pereira, Ledo explica que "a Independência de um povo não pode ser feita por um homem só. É obra da opinião pública que é soberana, que é invencível quando lateja a consciência nacional na ânsia da liberdade, aniquilando déspotas e troianos".

Exílio

O partido liberal fluminense foi acusado de republicano e Ledo foi ameaçado de morte por Bonifácio. Perseguido por seus capangas, o patriota se vestiu de mulher e se escondeu na fazenda do Barão de São Gonçalo, em Niterói. Com a ajuda de Lourenço Westin, embarcou disfarçado de frade em um navio mercantil sueco para Buenos Aires. Na capital da Argentina, ainda sofreu com calúnias e foi considerado fugitivo. Como o governo não lhe forneceu nenhum subsídio para a sua manutenção, hospedou-se na casa de seu amigo José Rodrigues Braga e trabalhou para garantir o seu sustento. Em outubro de 1823, a injustiça das acusações tornou-se evidente e o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro absolveu o liberal por falta de provas. Ledo retornou livre ao Brasil em 21 de novembro.

Política

Gonçalves Ledo foi eleito Deputado da Assembleia Provincial do Rio de Janeiro em 21 de setembro de 1822, porém a cadeira foi inicialmente ocupada pelo seu suplente, Martim Francisco. O liberal somente assumiu o cargo em 6 de maio de 1826 quando houve a reabertura da Assembleia .

Aos 45 anos, o fluminense que tanto lutou pela emancipação nacional, alcançou uma posição de independência em seus pronunciamentos na Assembleia Legislativa. Sua intervenção nos debates parlamentares era oportuna e não tinha o ímpeto juvenil que o distinguiu entre 1821 e 1822. Durante sua permanência no cargo, Ledo analisou diversos relatórios e entre eles publicou o "Parecer da Comissão de Fazenda da Câmara dos Deputados à Assembleia Geral do Império do Brasil" nos anais do Congresso.

Em 1827, Dom Pedro I abriu a sessão legislativa com uma Fala do Trono. Nessa ocasião, o patriota foi nomeado membro da comissão especial que elaborava a resposta da Assembleia e assumiu a responsabilidade em 1828. No mesmo ano, Ledo foi convidado a ser Ministro mas recusou alegando se achar incapaz de encarar o peso e as dificuldades de tal função. Apesar disso, foi reeleito Deputado geral da Assembleia Provincial do Rio de Janeiro em 1830.

Foi agraciado dignatário da Imperial Ordem do Cruzeiro e da Imperial Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo por Dom Pedro I, mas recusou a Imperial Ordem da Rosa e o título de Marquês. Sobre sua atuação política, Gonçalves Ledo foi descrito por Otávio Tarquínio de Sousa como "figura turva" e "muito comunicativo e alegre" por Afonso de Taunay.

Últimos anos

Em 1831, Ledo retornou suas atividades maçônicas e fundou três lojas: Educação e Moral, Reunião Brasileira e Amor à Pátria. Redigiu a sua autobiografia e memórias do seu tempo, documentos que fazem parte da história da Independência.

Casou-se com Ana Carolina de Araújo em 1833. Cansado, abandonou a política e a maçonaria em 1834 para dedicar-se a agricultura em sua Fazenda do Sumidouro, no município de Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro. Ledo teve um ataque cardíaco aos 66 anos e morreu em 19 de maio de 1847.

"Antipatizado pelos políticos, Joaquim Gonçalves Ledo sofreu longo e rigoroso ostracismo que a recordação de seus enormes serviços à causa da independência e o seu arroubado patriotismo deveria ter pelo menos mitigado. Viu-se no fim da vida repudiado pelos partidos. Inteligência de escol faltou-lhe para quiçá o equilíbrio das qualidades, para se tornar um dos dominadores da cena política do seu tempo; era por demais arrebatado e impetuoso, dizem-no os contemporâneos".

Legado

De acordo com Nicola Aslan, Joaquim Gonçalves Ledo trabalhava em prol de seus ideais liberais e não por ambicionar cargos, títulos ou honrarias de qualquer espécie. A carta publicada pelo fluminense em 1828 confirma seu espírito entusiasta: "Não vivo para sugar o Tesouro como os Andradas fizeram e fazem. Nunca fui pesado ao meu país e dele jamais recebi pelos meus serviços, pois sempre o servi abnegadamente, recusando qualquer recompensa material".

Existem rumores de que ele incinerou seu acervo de documentos relacionados a sua participação na Independência do Brasil. Mesmo assim, a história mostrou a grande importância de Joaquim Gonçalves Ledo e, Afonso de Taunay, acredita que ele foi o "principal arauto e articulador da Independência brasileira".

"Poucos homens públicos, em nosso país, tiveram o relevo e a notoriedade de Joaquim Gonçalves Ledo, o grande e implacável inimigo de José Bonifácio; aquele que foi o verdadeiro patriarca da nossa independência".

Títulos e honras

1822:

1826-1834:

Títulos

  • Comenda da Ordem de Cristo;
  • Comenda da Ordem dos Cruzeiros.

Homenagens

Ver também

Precedido por
Joaquim Gonçalves Ledo: Início da vida, Carreira, Últimos anos  Correspondente da ABL - Patrono da cadeira 15
Sucedido por
José Echegaray

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